terça-feira, 23 de agosto de 2011

Fábula

Queria colher a flor do campo,
Mas uma vaca chegou primeiro.

Moral da história: Quem sabe da próxima vez?

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

As Bruxas de Salém


Maiores informações: http://mandrioesdeteatro.blogspot.com

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Meio xadrez

Hoje eu acordei meio xadrez:

Ouvindo músicas,

Pensando na vida,

Meio desbocado até.


Cantando indecente

Cantigas profanas,

Olhando pra fora

Com pena de tudo.



Mundo penoso,

Derretendo,

Desmontando.


Meu café esfria na caneca ao meu lado

E uma voz de mulher sussurra ao meu ouvido:

“até onde posso ir pra te resgatar?”

No phone de ouvido.

A mesma mulher desbocada

que comeu a Madonna.


Me faz pensar: que mundo é esse?


Eu continuo xadrez,

Meio um,

Meio outro.


Gostando disso

E daquilo,

E daquilo outro ao meio reflexo,

O côncavo e o convexo.


Meio anjo,

Meio demônio,

Caminhando pela corda-bamba.

Tendo um olho no ontem

Outro no aqui e agora.


E o terceiro no futuro

Incerto.



Porém repleto de certezas

Certamente incertas

Como um jogo de dados.



terça-feira, 2 de agosto de 2011

Primeira tentativa para descrição do indescritível

Millôr Fernandes


A coisa inenarrável sucedeu num momento inimaginável. De tal modo era inadmissível em sua magnitude, imensidão, vasteza, enormidade, que posso garantir nunca se viu, conheceu ou ouviu falar de semelhante. Incrível, impensável, incalculável, formidável, formidanda, sobre-natural, irresrita, inaudita, fabulosa, de tal forma era inequívoca em sua excepcionalidade esdrúxula que a frase só podia ser uma: "Mirabile Visu!" Ficar boquiabertos, enleados, espantados, tolos de ver, desmandibulados ante aparência incontrolável, ingovernável, irreprimível, inertanciável, a plenitude, importância, grandeza e incredibilidade do visto era oa menos, pois que realmente transendia os limites, revestia proporções assombrosas, perdia-se de vista, completa, profunda, alta e assinalada. Era só o que se poderia fazer numa ocasião fantástica, transordinária, inapreciável, desmesurada, intermitável, tantíssima que o gigantesco era menos despropositado. Superlativar era dizer pouco, pois ímpar, díspar, enfim, estava ali demasiando-se, exaltando-se, ditirâmbica, incontrolável, ingovernável, inestancável, enextingüível, indisciplinável, causando espanto, estranheza, alarme e alarma, surpresa infrene, maravilha, atordoamento, estupefação, obstupefação, rapto dos sentidos, contemplação, embaçamento, estupor, sensação, pasmo, pasmo, pasmaceira, pasmatório, fascinação, fascínio, encantamento, entusiasmo, magia, deslumbramento, êxtase, admiração e os mais variados ecfonemas. Era a taumaturgia! Iam-nos os olhos em hipnose ante o que ra mais que o original e o inusitado, mais que o monstro, o prodígio, o portento, o fenômeno, o milagre, mais que o peixe-voador, o cisne-preto, o lépido-sereia, a avis-rara, mais que todas as sereias reunidas em convenção, mais que a salamandra, a fênix, a quimera, a hidra, o grifo, o minotauro, o centauro, o velocino, todos os pãs, todos os dragões, o notômelo e o sagitário.

Poderiam ainda surgir, sem que isso diminuísse uma partícula de partícula de partícula, um nicles patavina de sua fenomenalidade, todos os unicórnios, mas o mastoceronte; o ciclope, o iniódimo, a escalopendra, o epicéfalo, o comocéfalo, o cefalópode, o urômelo, o hipocampo, o onocentauro, o apósopo, o hipognato hipógrifo, o omacéfalo, que o poss arregalar, esbugalhar, boquiabrir, remirar, levantar de um salto, suspender a respiração, banzar, cair das nuvens, contemplar e embevecer não seriam menores, pois estaríamos diante da água e do vinho, comparando a sombra ao sol, o Nada ao Tudo. E poderiam ainda aparecer o montro sinadelfo, o pleuróssomo, o autosito, o dugongo, centenas de peixes fora d’água, milhares de caprichos da natureza, milhões de seres que não fossem nem uma coisa nem outra, inda sim nosso extasiar, enlevar, arrebatar, esfregar os olhos, embeber-se e entusiasmar-se seriam nada, zero, coisa nenhuma, nada sobre a terra, “nothing at all”, seriam nônada, fumo, tantito, tantico, coisa alguma, sombra de sombra do que vimos. Era tão nunca visto, excepcional, inaudito, esdrúxulo, proternatural, desnaturado, desmedido, descomedido, desusado, excêntrico, fora do comum, estrambótico, portentoso, raro, incomum, invulgar, inconcebível, inverossímil, sui generis, sem precedentes, sem exemplo, sem igual, sem paralelo, sem par, superior às forças da natureza, fora do usual, à exceção do mesmo, fora da craveira comum das leis eternas da Providência, que ficamos sem poder crês no que víamos, nem no que ouvíamos, nem no que sentíamos. Não sabíamos o que dizer, pois era surpreendente, surpresante, maravilhante, impressionante, espantoso. Mirificava, varava, infundia assombro, fazia pasmar, embasbacar, criava embaraço, abismava, eletrizava, alienava, encantava, hipnotizava, levava aos olhos, estonteava, aturdia, azabumbava. Falar era impossível. Só intejetivas:

“Será possível?”
“Santo Breve da Marca!”
“É de se tirar o chapéu””
“Santa Bárbara!”
“Olá!”
“Olé!”
“Onde se viu semelhante coisa!?”
“Céus!?”
“Cáspite!?”
“Sus!?”
“Caramba!”
“Com a breca!”
A coisa disse apenas: “Stupete, gentes!”
Em latim.