Em um
instante, e só por aquele instante, a “substância” esboçou um movimento que se
assemelhou à respiração, ou mesmo a um espasmo pós-mortis. Isso significou
alguma coisa. Ou não. Talvez estivesse viva, ou tenha vivido, mesmo que por
instantes, mesmo que num tempo remoto. Quem sabe se aquele movimento fosse um
esboço de vida? Ou uma memória do tempo
em que a vida existia, mesmo que por instantes?
Se os instante ainda existissem,
ou pudessem ser rememorados, isso teria acontecido.
Antigamente,
tempo e espaço eram duas coisas distintas, hoje não se sabe mais. Comecemos do
início. Do início do fim.
Tudo começou
quando ainda havia tempo e espaço, ou melhor, quando os dois eram coisas
distintas, e o infinito espaço (hoje finito) ainda não havia se dobrado sobre
si mesmo. A ciência passava por diversas transformações e por avanços inimagináveis.
A capacidade de armazenamento de dados crescia incomparavelmente, de modo que
se podia armazená-los em quase tudo. Bastava que se possuísse uma estrutura atômica
compatível com a informação a ser armazenada. A única excessão eram os tecidos
orgânicos, pois suas longas cadeias carbônicas eram muito bem resolvidas em sua
própria estrutura, impedindo, com isso, a transferência de informações por
meios tecnológicos. Os corpos orgânicos possuíam sua própria estrutura de
armazenamento.
Escrevo essa
carta à humanidade do passado no intuito de alertá-los para os perigos de
alguns procedimentos, aparentemente inofensivos. As idéias parecem confusas
pois a máquina capta os meus pensamentos e os tranforma em palavras, já não
tenho a capacidade de fazê-lo sem seu auxílio. As capacidades, inatas para vocês,
desapareceram com o tempo, à medida que a relação homem-máquina foi se tornando
como que uma simbiose, melhor dizendo, parasitismo.
Não sei quanto
tempo ainda tenho, pois esse já não existe mais.
Continuemos...