sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Da obscura substância - parte II



Em um instante, e só por aquele instante, a “substância” esboçou um movimento que se assemelhou à respiração, ou mesmo a um espasmo pós-mortis. Isso significou alguma coisa. Ou não. Talvez estivesse viva, ou tenha vivido, mesmo que por instantes, mesmo que num tempo remoto. Quem sabe se aquele movimento fosse um esboço de vida? Ou uma  memória do tempo em que a vida existia, mesmo que por instantes?
Se os instante ainda existissem, ou pudessem ser rememorados, isso teria acontecido.
Antigamente, tempo e espaço eram duas coisas distintas, hoje não se sabe mais. Comecemos do início. Do início do fim.
Tudo começou quando ainda havia tempo e espaço, ou melhor, quando os dois eram coisas distintas, e o infinito espaço (hoje finito) ainda não havia se dobrado sobre si mesmo. A ciência passava por diversas transformações e por avanços inimagináveis. A capacidade de armazenamento de dados crescia incomparavelmente, de modo que se podia armazená-los em quase tudo. Bastava que se possuísse uma estrutura atômica compatível com a informação a ser armazenada. A única excessão eram os tecidos orgânicos, pois suas longas cadeias carbônicas eram muito bem resolvidas em sua própria estrutura, impedindo, com isso, a transferência de informações por meios tecnológicos. Os corpos orgânicos possuíam sua própria estrutura de armazenamento.
Escrevo essa carta à humanidade do passado no intuito de alertá-los para os perigos de alguns procedimentos, aparentemente inofensivos. As idéias parecem confusas pois a máquina capta os meus pensamentos e os tranforma em palavras, já não tenho a capacidade de fazê-lo sem seu auxílio. As capacidades, inatas para vocês, desapareceram com o tempo, à medida que a relação homem-máquina foi se tornando como que uma simbiose, melhor dizendo, parasitismo.
Não sei quanto tempo ainda tenho, pois esse já não existe mais.
Continuemos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário